ESTADO DE MINAS / por Mariana Peixoto:
Grandes hits têm o poder do bem e do mal. No caso da cantora Suzanne Vega, Luka, a deliciosa canção pop que a fez tornar-se conhecida mundo afora em meados dos anos 1980, atrapalhou mais do que ajudou. Na época (o ano era 1987), o sucesso acabou abrindo as portas do meio fonográfico. Por outro lado, como Vega não conseguiu emplacar outro da mesma forma, viu-se presa a Luka por anos e anos. É isso, ao menos, o que aparece na superfície daquele ouvinte que passa ao largo do que toca em rádio. Um recado para os desavisados: ao longo de mais de 20 anos, Vega continuou produzindo. Não músicas fáceis, mas canções bem trabalhadas, com sotaque ora folk, ora jazzístico e letras de cunho literário, certamente influência de mestres como Leonard Cohen e Bob Dylan. Enfim, um pop sofisticado que não costuma chegar a ouvidos descuidados. Ganhou, nas últimas décadas, a aura de cult. Sua produção lhe deu o luxo de reler a própria obra em quatro álbuns temáticos, que levam o nome de Close- up. O primeiro deles, que ganha agora edição nacional pelo selo Lab 344, é Love songs. Em 12 faixas, Vega relê seu repertório em formato bem intimista (baixo, violão e guitarra). Despidas de grande instrumentação, as músicas de Vega têm um ar por vezes melancólico. Que o diga Small blue thing, faixa de abertura, gravado originalmente em Suzanne Vega (1985), o disco de estreia da cantora e compositora. Adepta das metáforas poéticas, aqui ela se coloca como "um pequeno objeto azul", que pode "chover aos pedaços". Na sequência, uma das músicas mais conhecidas da cantora, graças à inclusão na trilha sonora de Closer – Perto demais. Caramel não está muito diferente de sua primeira versão, mas o violão dá um leve sotaque bossa-novista. Em (If you were) in my movie, Vega deixa a interpretação mais suave de lado para cantar com voz grave, que acentua a intensidade da música. Gypsy, por sua vez, é a que tem a levada folk nos moldes tradicionais, o que levou Vega, no início de carreira, a ser comparada a Joni Mitchell. A verborrágica Marlene on the wall tem onda semelhante. "São canções de amor, mas que também falam de atração, flerte e confronto", escreveu Vega, hoje aos 51 anos, no encarte do álbum, também produzido por ela. No fim das contas, o que Love songs prova é que tanto cantora quanto sua obra passaram bem no teste da passagem do tempo.
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